Um país em transformação


A quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, detonou uma onda de pânico entre investidores de todo o mundo. Os mais pessimistas chegaram a alardear que vi¬veríamos uma crise de proporções comparáveis à Grande Depressão dos anos 30. Felizmente, essas expectativas não se confirmaram. O Brasil foi um dos países que mais cedo superou a fase aguda da crise e, hoje, já podemos comemorar a volta dos investidores estrangeiros e um Ibovespa na casa dos 58 mil pontos.

Dentre os fatores que colaboraram para essa recuperação está a política anticíclica promovi¬da pelo governo brasileiro. Pela primeira vez, ao invés de aumentar os juros para atrair capital,
o governo os reduz para incentivar a economia. Diversos setores também foram beneficiados com os pacotes de estímulo fiscal. A diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi, sem dúvida, uma contribuição importante para o aquecimento do mercado interno. Neste segundo trimestre, já pudemos notar a diminuição nos es¬toques das companhias e a retomada da produção industrial para repô-los. Além disso, embora a taxa de desemprego tenha aumentado, a massa salarial permanece estável, e as camadas de renda mais baixas foram beneficiadas pelo aumento do salário mínimo acima da inflação.

O Brasil possui a vantagem de não ter sofrido com as crises bancárias ou com o estouro da bolha imobiliária, como aconteceu nos países desen¬volvidos. Sairemos dessa crise fortalecidos, com uma das menores dívidas públicas do mundo em relação ao PIB. Outra boa notícia é o programa de investimentos implementado pelo governo chinês para estimular a economia local. Segundo nossas projeções, ele permitirá um crescimento de 9% do PIB do país em 2009. Para o Brasil, o cenário é extremamente auspicioso, uma vez que a China é um grande comprador de commodities. Hoje, cerca de 40% das companhias que compõem o Ibovespa são ligadas a esse setor.

Em adição ao cenário otimista, vemos a estabi¬lização dos juros em patamares de um dígito como uma enorme força de atração de investidores para o mercado de capitais brasileiro. Por décadas, o setor público absorveu todos os recursos dispo¬níveis na economia, principalmente via emissão de títulos públicos de curto prazo que conferiam generosos ganhos reais aos aplicadores. Agora, a realidade é outra. Finalmente, o Brasil poderá se beneficiar de uma premissa que existe em todos os outros mercados desenvolvidos do mundo: para se obter mais retorno, há de se tomar mais risco. Ou os investidores se acostumam com ganhos reais de 4% ao ano, ou deverão migrar parte de seus recursos para ativos de risco, especialmente ações. Fundos de pensão passam pelo mesmo dilema, com o agravante de não poderem comprar títulos que rendam menos de INPC + 6% ao ano, devido à prevenção do déficit atuarial.

Um estudo produzido pela Quest indica que a taxa de lucratividade média das empresas que compõem o Ibovespa deverá ser de 10% nos pró¬ximos 12 meses, bastante superior à taxa Selic, de 8,75% ao ano. Essa pesquisa dá a medida da transformação que estamos vivendo e o motivo pelo qual acreditamos numa performance muito positiva do mercado de ações. Para o fim do ano, projetamos o Ibovespa a 70 mil pontos.

Por Walter Maciel Neto

Fonte: Revista Capital Aberto – 23/09/2009