Preços administrados sobem acima da média do IPCA


Economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos: previsão de elevação mais modesta dos preços administrados em 2012.
Os preços administrados ganharam força neste ano, contribuindo decisivamente para a inflação ficar bem acima da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. Depois dos serviços (como aluguel, empregado doméstico e mensalidades escolares), são os principais responsáveis pela alta forte do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011.

De janeiro a outubro, os administrados avançaram 5,7% no IPCA-15, acima dos 5,5% registrados pelo IPCA “cheio” no mesmo período, aumento puxado principalmente pela alta da gasolina, das tarifas de ônibus urbano, dos planos de saúde e das passagens de avião. No IPCA-15 de outubro, os administrados subiram 0,52%, próximo do 0,54% do mês anterior. Entre os destaques de alta do grupo, passagens aéreas, com 14,23%, e taxa de água e esgoto, com aumento de 1,79%.

Depois da elevação de 3,13% dos administrados no ano passado, os analistas esperavam um aumento maior desses preços neste ano, devido à maior variação registrada tanto pelo IPCA quanto pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) em 2010 do que em 2009. Ainda que tenha acabado o tempo da correção automática de algumas tarifas públicas pelos IGPs, os administrados continuam a sofrer a influência da inflação passada, ainda que fatores como a evolução da produtividade atenuem o impacto.

O ponto é que o avanço dos preços monitorados superou em muito as expectativas. No fim de 2010, por exemplo, os analistas ouvidos semanalmente pelo BC apostavam em elevação de 4,5% dos administrados em 2011, percentual que já foi superado, e com folga, nos primeiros nove meses do ano. As projeções coletadas pelo BC apontam hoje para uma elevação de 5,8%, e há quem preveja 6,5%, como a MCM Consultores Associados.

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“Os administrados terão um peso muito mais forte na inflação deste ano do que na de 2010”, resume a economista Basiliki Litvac, da MCM. Em 2010, eles explicaram 15% da variação de 5,9% do IPCA. “No nosso cenário para 2011, eles vão contribuir com 28% da alta de 6,6%”, diz ela, que no começo do ano trabalhava com um aumento na casa de 5% dos administrados.

Entre os itens que mais subiram – e mais surpreenderam os analistas -, destacam-se as tarifas de ônibus urbano, a gasolina e as passagens de avião. De janeiro a outubro, as tarifas de ônibus subiram 8,5% no IPCA-15.

Em ano em que não há eleição municipal, como 2011, é comum que as passagens sejam reajustadas, mas os aumentos foram mais fortes do que se esperava. Das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE, apenas Brasília não elevou os preços, como destaca a LCA Consultores. Em São Paulo, a tarifa subiu 11,1% em janeiro, depois de já ter sido reajustada no ano anterior. Segundo o economista Fabio Romão, da LCA, é um item em que o poder discricionário dos prefeitos para definir os aumentos é grande, ainda que a inflação passada e a variação dos combustíveis possam ser parâmetros para o reajuste. Em 2010, as tarifas avançaram 7,5% e, em 2008, ano de eleição municipal, 3,7%.

“Em geral, são levados em conta na hora de definir o reajustes das tarifas de transporte público os reajustes salariais dos motoristas, variação dos combustíveis e das demais despesas de manutenção dos equipamentos e investimentos. No caso de ônibus urbano, também são considerados os subsídios”, diz Basiliki, observando que o timing da decisão depende mais de uma decisão política, o que torna mais difícil a estimativa. Os motoristas de São Paulo, com data-base em maio, obtiveram reajuste de 6% em 2010 e de 8% em 2011.

Outra surpresa negativa tem sido o comportamento da gasolina, por conta da disparada do álcool, que é adicionado àquele combustível. De janeiro a outubro, a gasolina no IPCA subiu 7%. Segundo Romão, problemas de oferta do etanol e o aumento da demanda, com a ampla disseminação dos carros flex, explicam a disparada do álcool. No acumulado até outubro, o aumento foi de 16,3%.

Para completar o trio das surpresas negativas, os preços das passagens de avião registram aumentos explosivos. No acumulado do ano até outubro, subiram 50,3%. Ainda que o peso seja pequeno – 0,37% -, uma alta dessa magnitude acaba por fazer estragos. O mercado aéreo aquecido e a alta das combustíveis ajudam a entender a alta das passagens, embora haja muita volatilidade, com aumentos significativos sendo sucedidos por grandes tombos no mês seguinte.

Outra alta expressiva é a dos planos de saúde, que já avançaram 6,3% no ano. Nesse caso, a mecânica de correção é menos imprevisível do que nos itens acima. Basiliki diz que os planos antigos, assinados até janeiro de 1999, têm os reajustes baseados nos indexadores constantes dos contratos – em geral o IGP-M, mas há alguns que usam o IPCA -, enquanto os novos têm como referência os percentuais aplicados nos planos coletivos.

Para 2012, a expectativa dominante dos analistas é de uma alta mais modesta dos preços administrados. O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, projeta aumento de 6,4% neste ano e de 4,7% no ano que vem, enquanto Romão trabalha com 6,4% em 2011 e 4% em 2012. Ramos lembra que muitas prefeituras não devem reajustar passagens de ônibus no ano que vem, por ser ano eleitoral. Uma disparada do álcool como a deste ano também parece pouco provável.

Romão lembra que algumas distribuidoras de energia elétrica, como a Eletropaulo, deverão passar por um processo de revisão tarifária em 2012, algo esperado para este ano, o que não ocorreu porque as regras ainda não estão definidas. A expectativa dos analistas do setor é que haja redução das tarifas, como no caso da Eletropaulo. Isso indica que elas podem contribuir para aliviar os administrados e, com isso, a inflação.

Em 2011, o pior da alta dos administrados se concentrou no começo do ano, até maio. Em setembro e outubro, porém, houve algum repique, com os preços desses itens subindo mais de 0,5%.

O comportamento dos preços administrados – e também de alguns serviços – mostra que a inércia inflacionária no Brasil ainda incomoda. Fenômeno pelo qual a inflação passada alimenta a inflação futura, a inércia é hoje menor do que na época em que os IGPs corrigiam automaticamente as tarifas de telefonia, por exemplo, mas ainda está bastante presente, diz Ramos.

No Índice Setorial de Telecomunicações (IST), o peso direto do IPCA é de 48% e o do IGP-M, de 6,8%. Em serviços, os aluguéis, por exemplo, são em sua maioria corrigidos pelo IGP-M. Nesse cenário, uma inflação mais alta num ano pressiona, em alguma medida, os índices de preços do ano seguinte.

Por Sergio Lamucci
Fonte:
Valor Econômico – 21/10/2011